Joinvilenses pelo mundo.
Dando sequência a minha série de entrevistas com joinvilenses que são destaques pelo mundo, nesta edição, duas mulheres fortes e que são ícones em suas carreiras: a top model Ana Claudia Michels e a designer Renata Moura. Acompanhe a partir de agora, a história, a trajetória e curiosidades destas grandes personalidades, que saíram de Joinville e se tornaram referências.
Renata, como foi o processo de transição: Joinville, Curitiba e agora São Paulo?
A primeira vez que mudei para Curitiba foi para fazer faculdade, cinco anos depois voltei para Joinville para trabalhar na Whirlpool. Fiquei na minha cidade natal por mais sete anos, dois deles focada 100% no meu escritório, mas como a maioria dos meus clientes eram de outras cidades, percebi que Curitiba seria um local mais estratégico. Logo que mudei para Curitiba, comecei a viajar muito mais a trabalho, principalmente para São Paulo, Índia, China e Estados Unidos, até que chegou num ponto em que eu só conseguia passar os finais de semana em casa, então mudei para São Paulo e estou aqui há oito anos.
O Studio Renata Moura, no qual você faz parte, nasceu com o objetivo de influenciar as pessoas positivamente e gerar novas experiências, há mais de dez anos, isso continua?
Sim! Nosso foco é contar histórias verdadeiras, melhorar a vida de todos os envolvidos nos projetos, entregando o máximo de boas experiências possíveis nos produtos e nos trabalhos gráficos que fazemos. São 18 anos de carreira, 14 deles com o meu escritório e a meta permanente de influenciar as pessoas de maneira positiva.
Você atua em vários segmentos do design, ou seja, produto, movelaria e por aí vai, como isso se dá, e como acontece o seu processo criativo?
Um dos meus objetivos sempre foi ter diversidade no trabalho. Hoje, vejo que já consegui criar para diversos segmentos, como escovas de dente, frascos de perfume, eletrodomésticos, identidades visuais, embalagens das mais variadas e por aí vai! Penso que o que mais alimenta um criativo é o repertório que essa pessoa construiu durante a vida, isto é, tudo que ela já leu, viu e viveu. Livros, exposições, filmes, viagens, trabalhos, cursos, palestras, feiras, festas, amizades, tudo isso influencia e alimenta meu repertório. E como criar é ligar pontos, meu processo criativo resgata coisas da minha história pessoal, das minhas experiências profissionais e conecta com o que estou pesquisando para fazer o projeto novo. Essa pesquisa pode ser motivada pelo que meu cliente pediu ou por um assunto novo que me interessei. Minhas ideias podem surgir de um tropeço na rua, da letra de uma música, de quando estou buscando ou podem simplesmente acontecer, mas elas sempre têm algo que eu gosto e me interesso. Já fui questionada sobre as desvantagens de não ser especialista em um único ramo do design, mas vejo muito mais vantagens nisso, é mais trabalhoso entender daquele mercado novo, mas por ver de fora, consigo ligar mais pontos e a possibilidade de inovar aumentam!
A marca franco-brasileira L’Occitane au Brésil, é um dos seus principais clientes, como funciona essa parceria de sucesso?
Em 2014, a L’Occitane au Brésil me convidou para desenhar o frasco do creme hidratante Caju, depois criamos a identidade visual da linha e por último desenhamos o sabonete em barra. De lá pra cá a gente não parou de criar para eles, já fizemos várias linhas, como a Compotas Corporais mais focada em jovens, o frasco de perfume masculino Café Verde e a linha de tratamento capilar Patauá. Também temos feito projetos que não levam a minha assinatura, como embalagens de presente, livros e até frascos de perfume, como o Amburana. Acho incrível como essa marca valoriza nossos biomas, nossa flora e nossos artistas! Os projetos geralmente levam dois anos e até 2020 temos mais quatro lançamentos.
A sustentabilidade, a criatividade e a funcionalidade são uma das suas principais características enquanto designer é possível ainda ter essas características, num mundo tão uniforme e padronizado?
Para mim, sustentabilidade, criatividade e funcionalidade são características essenciais na criação de um produto. Como características do meu trabalho, eu acrescentaria: beleza, proporção formal, adequação ao público alvo e conforto. No Studio Renata Moura, criamos projetos com a sustentabilidade em mente, mas como a produção geralmente não depende de nós, as vezes o produto é lançado sem o nível ideal que indicamos. Muitas vezes, não é sustentável porque é muito focado em baixo custo e grande volume de produção, e durante esse processo nem sempre a opção mais barata é a mais sustentável. Não vejo o mundo como uniforme e padronizado, tem coisas que realmente são mais padronizadas, como a produção em larga escala que possibilita a entrega de produtos acessíveis para pessoas de baixo poder aquisitivo, que infelizmente ainda é a maioria da população mundial. Por outro lado também existem produtos customizáveis, pequenas tiragens, peças únicas e edições limitadas, que na maioria das vezes só cabem no bolso de quem está no topo da pirâmide.
Onde a Renata Moura ainda quer chegar?
Como sou muito curiosa, quero continuar tendo diversidade no trabalho para estar continuamente aprendendo. Tenho muita vontade de trabalhar com design de comida, desenhar chocolates, biscoitos e até tipos de macarrão. Sempre fui apaixonada por café e já faz uns anos que entrei de cabeça nesse universo gigantesco, e vejo como ainda usamos muitos equipamentos importados, geralmente por falta de opções produzidas aqui no Brasil, então esse nicho pode ser uma forma de juntar a paixão por café com o design. Outros mercados que tenho vontade de atender são os de produtos para pets e para o público infantil. Também pretendo voltar a investir na minha linha autoral e quero ver minhas criações indo mais longe nesse mundão!
Você dá muitas palestras pelo Brasil, sendo super requisitada, o que você diz nesses encontros, o que você tenta passar para a nova geração de profissionais e os que atuam no mercado?
Minhas palestras são bem animadas! Geralmente conto a minha história, cito outros designers e profissionais de outras áreas que admiro, mostro cases de sucesso e também de fracasso, já que a vida é feita de altos e baixos e é bom estarmos preparados para agir nos dois momentos. Gosto de colocar a plateia pra cima, de fazer cada um acreditar nos seus sonhos, sonhar mais, mais alto e ter coragem para correr atrás deles, porque acredito que o pensamento cria e hoje estou vivendo coisas que imaginei durante a faculdade, por isso vejo o momento da formação como uma joia para se imaginar no futuro, já que geralmente nessa época temos menos filtros e julgamentos sobre a profissão. Outro assunto que gosto de abordar é sobre a criatividade, penso que qualquer pessoa pode ser criativa, por isso tento mostrar que existem maneiras de levar a vida estimulando o nosso lado inventivo.
E para finalizar, para você qual o futuro do design?
Com o aquecimento global, teremos que mudar nossos padrões de produção e consumo, então tudo terá que ser repensado, desde o tipo de material até o transporte dos insumos e produtos acabados. Sabemos que algumas profissões estão ficando obsoletas, as que envolvem criatividade permanecerão, mas diferentes do que conhecemos hoje, por exemplo, provavelmente as criações muito básicas serão feitas por inteligências artificiais. O bacana é que isso abre espaço para criações mais ousadas e produtos exclusivos! Para compensar o mundo cada vez mais digital e tecnológico, nós vamos valorizar mais a nossa história, nossas raízes, o feito à mão, pequenas tiragens, materiais naturais, memórias afetivas e produtos ecologicamente adequados com o novo momento. Acredito que provavelmente não teremos mais quase nada descartável, esses básicos do dia a dia como garrafas, copos e canudos não vão (e não podem) sobreviver! Vamos criar novos materiais, novos produtos e novas maneiras de viver.
Data da publicação: Setembro de 2019
Edição nº 73 – Ano 11