Talento ao Extremo
Produções futuristas com design arrojado Renata Moura cria peças com a cara do Brasil
Desde pequena, as formas e curvas já chamavam a atenção da designer Renata Moura. Com apenas quatro anos de idade, a catarinense ficou fascinada pelo projeto da nova casa, apresentado aos seus pais pela mãos de um arquiteto. Aos sete, viu entre as revistas de decoração da mãe, a cadeira Panton – primeiro assento produzido em plástico injetado, projetada em 1960 por Verner Panton e lançada em 1967. Foi ali que teve a certeza de que essa seria sua carreira: criar peças de design repletas de cores, jovialidade e muito humor.
Mais tarde, Renata ingressou PUC Paraná, onde cursou Desenho Industrial com especialização em Projeto de Produto. Foi assim que deu início as suas primeiras concepções e não parou mais. Ainda na faculdade, criou a mesa para telefone Triiim, o que acabou lhe rendendo o Prêmio Nacional de Estudante, promovido pela Movelsul. Quatro anos mais tarde recebeu Menção Honrosa do Museu da Casa Brasileira pela produção do puff UoooU. Entre seus trabalhos de maior destaque estão o simpático minirrefrigerador Brastemp Retrô e o divertido banco Goma – que marcou presença na Semana de Design de Nova York e, ainda, abrilhantou a Dança das Crianças, produzido pelo Programa do Faustão, na Rede Globo.
Hoje, aos 31, a catarinense está à frente do próprio escritório, localizado em Curitiba (PR). Suas renomadas criações concederam-na ampla projeção internacional, elevando-a ao patamar de uma das mais novas e suscetíveis designers brasileiras. Sua personalidade inquieta e a habilidade em trabalhar com diversos materiais proporcionaram-lhe parcerias com empresas do segmento têxtil e odontológico. No bate-papo exclusivo que segue, Renata fala sobre o sucesso repentino, bem como sua paixão pelo design e suas peças – tão belas e charmosas!
Ao longo de sua carreira, você atuou em empresas como a Brastemp e a Consul – chegando a criar o famoso frigobar retrô, como foi essa experiência?
Trabalhar na Whirlpool (fábrica da Brastemp e da Consul) foi como a segunda faculdade. Aprendi muito sobre materiais e processos de fabricação. Além de estar presente em reuniões estratégicas com a equipe de Marketing, participei da criação dos refrigeradores mais importantes destas marcas, ajudando a construir seu DNA. Também pude negociar custos e trabalhar em parceria com o setor de Engenharia. Foi realmente uma escola.
Você também é graduada em Design Emocional. O que esta formação agrega positivamente em suas criações?
Sempre me atraí por produtos, projetos e exposições que mexem com a emoção. Vivia buscando isso em minhas concepções, antes mesmo de saber que o Design Emocional existia. Além disso, eu estava procurando por uma especialização interessante e esta foi a primeira que realmente me atraiu. Hoje faço e falo sobre o assunto com maior embasamento.
Como é seu processo de criação?
Quando estou criando penso em mil coisas, incluindo elementos que pesquisei e que podem contribuir de alguma maneira, em como as pessoas vão usar o produto, como vão interpretar a ideia, como está o mercado em que novo artigo será inserido, nos concorrentes, nos custos, nos métodos de fabricação que o meu cliente possui ou precisa utilizar para produzir esta nova peça, e assim por diante. Também aproveito os referenciais de filmes que assisti, exposições, lojas e lugares que visitei. Uma animação ou, até mesmo, um livro de ilustrações, podem me influenciar.
De onde vem a inspiração para a criação de peças tão singulares e cheias de estilo?
Procuro seguir algumas receitas pessoais para me manter criativa e fugir da rotina. Altero a ordem com a qual tomo banho e mudo o caminho de casa para o trabalho. Estou sempre viajando, conhecendo lugares e pessoas novas, conversando e conhecendo mais sobre o ser humano. Tudo me inspira até coisas mais simplórias como a sombra dos fios projetada na parede. Essa postura de procurar me manter aberta, com os olhos e ouvidos sempre atentos, ajuda significantemente no processo criativo.
O artista sempre se manifesta através de suas concepções. Qual a mensagem você procura transmitir?
Meu objetivo é influenciar as pessoas positivamente, melhoras suas vidas em aspectos, como: agregar mais conforto, mais prazer, despertando boas memórias, pensamentos e novas experiências.
Entre os artigos de design que você concebeu, por qual você cultiva maior carinho?
Considero todas as criações como filhos que coloquei no mundo e, por isso, é tão difícil escolher um predileto. O banco Goma foi um marco, pois foi a peça que mais ganhou prêmios, que mais viajou para exposições e que me rendeu uma quantidade absurda de mídia espontânea. Mas acredito que o primeiro prêmio que ganhei com o projeto mesa para telefone Triiim, quando ainda era estudante, foi bastante marcante. Além de ser um estímulo para que eu continuasse na profissão, pude considerar o fato como um sinal de que o caminho que eu estava trilhando era o certo.
Você possui parcerias com grandes empresas têxteis e de segmento odontológico, como surgem inspirações e criações para este público?
Atender a empresas grandes têm vantagens. Estes tipos de parceiros oferecem-me informações valiosas, pois geralmente, já fazem pesquisa de mercado, estão constantemente em contato com distribuidores e consumidores procurando entender as necessidades e oportunidades deste nicho. Nestes casos, minhas inspirações vêm das visitas que faço às fábricas, das conversas com o setor de Produção, de Engenharia e Comercial. Também realizo pesquisas de campo, que consistem em visitar lojas e pessoas que utilizam produtos similares, para captar o que posso agregar de novo. Isso tudo sempre aliado as minhas referências visuais e artísticas.
Os famosos bancos Goma são muito conhecidos e possuem um design bastante divertido – é a Renata dando seu toque de humor às peças que cria?
Com certeza! Coloco muito da minha personalidade nos projetos.
Certa vez, você disse que o plástico é um material democrático, sem limitações de forma, o que torna o design acessível. Como surgiu a paixão por este tipo de material?
Quando trabalhamos com outros materiais como a madeira e o metal, acabamos conhecendo suas limitações. A versatilidade fez com que eu me encontrasse no plástico – ele me dá infinitas possibilidades de formas, tamanhos, efeitos e texturas.
Data da publicação: 2011
Edição nº 1 – Ano 1